Decada de 30
Em 1934, meu pai, Soichi Mabe, em companhia de minha mãe, Haru, e cinco filhos, viajaram ao Brasil. O que nos esperava era um serviço novo e desconhecido. Mas havia uma missão a cumprir. Nós imigrantes buscávamos no Brasil um mundo novo para encontrar um caminho a vencer. Belo! Foi a minha primeira definição do Brasil. Cresci sem formação escolar especializada. Minha vida foi sempre orientada pela natureza. Planícies e mais planícies a perder de vista. Plantações de café, fazendas de criação de gado, florestas, caminhos de terra vermelha cortando a mata virgem, o canto dos pássaros, o ruído dos insetos, o barulho da queda das mangas. É indescritível a influência da natureza na formação da minha personalidade e no desenvolvimento das minhas qualidades de pintor. Ao aproximar-me de um fruto de mamão amarelo e maduro, corre um lagarto. É a lembrança que tenho dos idos de 1934, quando, aos 10 anos de idade, mudei para Birigui, cidade do interior de São Paulo. Desde criança sempre gostei de desenhar e trouxe para o Brasil os crayons que usava na escola primária do Japão. Lembro-me da natureza brasileira que se desvendou sob os meus olhos, os peixes nadando nas águas rasas das lagoas e os papagaios disputando uma goiaba madura. E quatro ou cinco anos passaram-se em arrebatamento. Voltei a desenhar novamente. Isto era possível apenas nas horas de folga do serviço de cafeicultura, como nos dias de chuva ou aos domingos.